sábado, 5 de janeiro de 2013

Há palavras que ferem mais que uma navalha.


Escrevo este pequeno texto à minha amiga de infância, Maria Branco, que está a atravessar uma fase difícil da sua vida.

A Maria é uma mulher simples, é o que é, não tem ambições de dinheiro nem de poder. Nasceu numa família sem dificuldades. Gosta de aprender, estudar, relacionar-se com os outros.

Não existia sem “O Outro”, preocupa-se com ele todos os dias e as tarefas que tem desempenhado são sempre nesse sentido. 

Quer justiça social, quer igualdade de oportunidades, não tem medo da verdade e tem coragem para enfrentar tudo e todos pelos objectivos em que acredita.

A Maria é uma pessoa “perigosa”! Gosta da verdade e não se vende por “jeitinho” nem por nada.

Ama profundamente, o seu companheiro, o seu filho, os seus Pais, a sua família toda e O Outro. Nunca se esquece de ninguém.

Vêm-lhe as lágrimas aos olhos quando se enternece, quando sente uma injustiça, para si ou para O Outro e se extasia-se perante a Criação da Vida, Construção, Vitórias…

Se forem emoções fortes chora convulsivamente.

A Maria anda metida em “maus lençóis”.

Sempre amou muito mais que a amaram mas nunca desistiu do amor. Foi sempre tudo tão difícil que só consegui ter um filho aos 40 anos.

O Pai do filho deu-lhe umas “pantufadas” para que não lhe faltasse experiência nenhuma na vida.

A Maria encontrou um companheiro maravilhoso, carinhoso, delicado, sensível, aquilo que ela queria para o fim da sua vida atribulada. 

Amaram-se tanto que não conseguiam viver um sem o outro e juntaram os trapinhos e foram muito felizes. A Maria levou tudo o que tinha dela e entregou-se.

 Foi diagnosticado à Maria um cancro e ele foi o melhor companheiro do Mundo.

Andavam sempre juntos, com aqueles olhares cúmplices que até irritavam. Quase que não me apetecia estar com eles.

Até aquele dia em que ele em que ele deixou de olhar para ela, começou a sair sem ela e desligava o telemóvel, começou a partilhar a intimidade deles com outras pessoas….e se foi distanciando.

A Maria estava em casa porque não podia trabalhar devido ao seu problema oncológico e sequelas de problemas recentes muito graves e ficou muito mais derrubada quando o seu grande Amor lhe começou a dizer frases injustas; que usava uma “doença de nada” para justificar a preguiça, já que está em casa podia-a ter a brilhar, que a comida que faz não presta nem dá para restos….. (Ela diz-me que ele nem imagina o que ela tem que inventar para fazer refeições de 3€s)….

Andou tanto tempo a gaba-la como a melhor cozinheira…

A Maria está em casa, sozinha. Faz algum trabalho político e sindical sempre que pode, que é o que ela mais gosta, mas o seu Amor diz-lhe que se sai é para ir ao “engate”.

Tenho mesmo que a ajudar, ela sempre foi lutadora mas está a perder a força.

Ainda tem muito para fazer por ela e por todos.

Espero que ela me leia e perceba que não está sozinha.

Amo-te Maria, estou aqui desde pequeninas para nos ampararmos.

Não desesperes, amanhã é outro dia.

E o Sol nasce todos os dias para ti.