Escrevo este pequeno texto à minha amiga de infância, Maria
Branco, que está a atravessar uma fase difícil da sua vida.
A Maria é uma mulher simples, é o que é, não tem ambições de
dinheiro nem de poder. Nasceu numa família sem dificuldades. Gosta de aprender,
estudar, relacionar-se com os outros.
Não existia sem “O Outro”, preocupa-se com ele todos os dias
e as tarefas que tem desempenhado são sempre nesse sentido.
Quer justiça
social, quer igualdade de oportunidades, não tem medo da verdade e tem coragem
para enfrentar tudo e todos pelos objectivos em que acredita.
A Maria é uma pessoa “perigosa”! Gosta da verdade e não se
vende por “jeitinho” nem por nada.
Ama profundamente, o seu companheiro, o seu filho, os seus
Pais, a sua família toda e O Outro. Nunca se esquece de ninguém.
Vêm-lhe as lágrimas aos olhos quando se enternece, quando
sente uma injustiça, para si ou para O Outro e se extasia-se perante a Criação
da Vida, Construção, Vitórias…
Se forem emoções fortes chora convulsivamente.
A Maria anda metida em “maus lençóis”.
Sempre amou muito mais que a amaram mas nunca desistiu do
amor. Foi sempre tudo tão difícil que só consegui ter um filho aos 40 anos.
O Pai do filho deu-lhe umas “pantufadas” para que não lhe
faltasse experiência nenhuma na vida.
A Maria encontrou um companheiro maravilhoso, carinhoso,
delicado, sensível, aquilo que ela queria para o fim da sua vida atribulada.
Amaram-se tanto que não conseguiam viver um sem o outro e juntaram os trapinhos
e foram muito felizes. A Maria levou tudo o que tinha dela e entregou-se.
Foi diagnosticado à
Maria um cancro e ele foi o melhor companheiro do Mundo.
Andavam sempre juntos, com aqueles olhares cúmplices que até
irritavam. Quase que não me apetecia estar com eles.
Até aquele dia em que ele em que ele deixou de olhar para
ela, começou a sair sem ela e desligava o telemóvel, começou a partilhar a
intimidade deles com outras pessoas….e se foi distanciando.
A Maria estava em casa porque não podia trabalhar devido ao
seu problema oncológico e sequelas de problemas recentes muito graves e ficou
muito mais derrubada quando o seu grande Amor lhe começou a dizer frases injustas;
que usava uma “doença de nada” para justificar a preguiça, já que está em casa
podia-a ter a brilhar, que a comida que faz não presta nem dá para restos…..
(Ela diz-me que ele nem imagina o que ela tem que inventar para fazer refeições
de 3€s)….
Andou tanto tempo a gaba-la como a melhor cozinheira…
A Maria está em casa, sozinha. Faz algum trabalho político e
sindical sempre que pode, que é o que ela mais gosta, mas o seu Amor diz-lhe
que se sai é para ir ao “engate”.
Tenho mesmo que a ajudar, ela sempre foi lutadora mas está a
perder a força.
Ainda tem muito para fazer por ela e por todos.
Espero que ela me leia e perceba que não está sozinha.
Amo-te Maria, estou aqui desde pequeninas para nos
ampararmos.
Não desesperes, amanhã é outro dia.
E o Sol nasce todos os dias para ti.